Seus olhos castanhos, tão serenos, nublaram.
Nuvens pesadas anunciavam a tempestade.
Chuva que, em contraste com a luz do quarto,
deixava aqueles olhos com um brilho tão singular,
tão majestoso.
Quem fitasse os olhos de Catarina naquele momento único, teria a sensação de estar contemplando a rosácea da capela de Sainte-Chapelle em uma tarde de garoa.
Gota após gota molhava os vitrais. A primeira, mais pesada e orvalhada, transbordou e mais que depressa foi arrancada com um gesto ríspido e intolerante.
O dilúvio chegara. A tarde se fez noite e o sol não mais cruzava os vidros.
Era a fraqueza que escorria pelo rosto de Catarina, era a desonra destacada em meio ao ódio. Era o olhar que, mesmo cego pela escuridão, forçava um pequeno feixe de humanidade.
O Ciclone da Cólera. O mais poderoso e devastador e ditatorial dos demônios. Era a raiva animalesca que excitava Catarina a esmurrar as paredes até que todos os ossos das mãos estivessem completamente estilhaçados. (Se conteve, pois o instinto de preservação implorou por clemência.)
Catarina acovardava-se. Reservava o direito de externar o ódio a apenas aos de bravura. Aos de coragem para revidar. Mas Catarina era covarde. Cerrava os olhos enquanto segurava a respiração.
Asfixia. Força. Arrisca tudo para engolir o gênio da fúria.
E esse monstro cresce dentro de Catarina a cada mordida.
Perverte.
Corrompe.
Apodrece.
E se alimenta dos vermes que cultuam
o esterco sanguíneo que pulsa irrequieto
por entre os vasos rasos do rosto de Catarina.