domingo, 25 de abril de 2010

Just happy.

Recife, 25 de março de 2010.

Querido,


Peguei minhas sapatilhas de primeira comunhão e pintei de rosa. O resto da tinta joguei pela janela, calçada a fora. A tinta escorreu, pintou as ruas; e foram minhas mãos sujas que pintaram as tuas. Tirei de mim o marasmo e a apatia, deixei pra ti só meu bem e poesia. Com a tinta ainda fresca, as sapatilhas eu calcei e o vestido que vestia, tirei. Andei, sem medo, pelas ruas que, agora cor de rosa, refletiam seus tons em mim. Eu, branca nua, enrubesci, mas não por vergonha ou embaraço. Ruborizei com o sangue que pulsava com teu pulsar naquele beijo que te dei.



Com amor,

Catarina.






sábado, 3 de abril de 2010

Eyes


Essa Indiferença sempre aterrorizou Catarina
mais que o desprezo, mais que a repulsa.



A Indiferença é uma pedra que, embora pedra, pulsa e vibra.
Uma pedra açoitada por musgos e cobras-cegas.
Uma pedra que se faz inerte, ainda que orgânica, que finge e se deixa sabotar.
É a
alma em estado vegetativo, na margem do ser, pronta para a queda.
É o coma dos Sentires, que mantém o Querer anestesiado e preserva-o refém dos dedos firmes que envolvem o chicote.
É a
faca apática, fina e oportuna, que pressiona até romper. Rompe e deixa brotar o córrego que se esvai até o fim.

Combate subaquático. Desesperado, porém surdo.
Arroxeia as extremidades e retarda os batimentos cardíacos.






Cansada, Catarina se vê afrontada,
quase sem forças, nessa batalha sem futuro
pelos olhos dele nos dela.