sábado, 27 de março de 2010

Run

“Desfile em direção à tua coroação.”

Ordenava Catarina com seus lábios torcidos.


Aceite a esmola que te dão de bom grado. Feche teus olhos e receba o beijo enojado do carrasco.

Mas não se permita o abate. Não se deixe cair.



Pule.






Seguiu de rosto erguido até o cadafalso.







terça-feira, 16 de março de 2010

Não darei um título

Não me obrigues a tudo dar razão, a tudo distinguir
Lá ou aqui
Nenhum nome é absoluto, nenhuma idéia é pedra.
Os carros passam e levam os ponteiros, o semáforo ritmado não pertence ao nosso mundo. Os ponteiros também não.
A noite não nega o dia (E nem ao contrário).
O que nasceu primeiro? A dúvida é enviada sem destinatário.
Nada é.
Estou.
E a caixa de correio não tem correspondência.





Perdão Drummond, mas a noite tem reticências!


16 DE MAIO DE 2008








terça-feira, 2 de março de 2010

Anger

Seus olhos castanhos, tão serenos, nublaram.
Nuvens pesadas anunciavam a tempestade.
Chuva que, em contraste com a luz do quarto,
deixava aqueles olhos com um brilho tão singular,
tão majestoso.
















Quem fitasse os olhos de Catarina naquele momento único, teria a sensação de estar contemplando a rosácea da capela de Sainte-Chapelle em uma tarde de garoa.

Gota após gota molhava os vitrais. A primeira, mais pesada e orvalhada, transbordou e mais que depressa foi arrancada com um gesto ríspido e intolerante.

O dilúvio chegara. A tarde se fez noite e o sol não mais cruzava os vidros.

Era a fraqueza que escorria pelo rosto de Catarina, era a desonra destacada em meio ao ódio. Era o olhar que, mesmo cego pela escuridão, forçava um pequeno feixe de humanidade.

O Ciclone da Cólera. O mais poderoso e devastador e ditatorial dos demônios. Era a raiva animalesca que excitava Catarina a esmurrar as paredes até que todos os ossos das mãos estivessem completamente estilhaçados. (Se conteve, pois o instinto de preservação implorou por clemência.)


Catarina acovardava-se. Reservava o direito de externar o ódio a apenas aos de bravura. Aos de coragem para revidar. Mas Catarina era covarde. Cerrava os olhos enquanto segurava a respiração.

Asfixia. Força. Arrisca tudo para engolir o gênio da fúria.

E esse monstro cresce dentro de Catarina a cada mordida.



Perverte.

Corrompe.

Apodrece.



E se alimenta dos vermes que cultuam

o esterco sanguíneo que pulsa irrequieto

por entre os vasos rasos do rosto de Catarina.