terça-feira, 2 de março de 2010

Anger

Seus olhos castanhos, tão serenos, nublaram.
Nuvens pesadas anunciavam a tempestade.
Chuva que, em contraste com a luz do quarto,
deixava aqueles olhos com um brilho tão singular,
tão majestoso.
















Quem fitasse os olhos de Catarina naquele momento único, teria a sensação de estar contemplando a rosácea da capela de Sainte-Chapelle em uma tarde de garoa.

Gota após gota molhava os vitrais. A primeira, mais pesada e orvalhada, transbordou e mais que depressa foi arrancada com um gesto ríspido e intolerante.

O dilúvio chegara. A tarde se fez noite e o sol não mais cruzava os vidros.

Era a fraqueza que escorria pelo rosto de Catarina, era a desonra destacada em meio ao ódio. Era o olhar que, mesmo cego pela escuridão, forçava um pequeno feixe de humanidade.

O Ciclone da Cólera. O mais poderoso e devastador e ditatorial dos demônios. Era a raiva animalesca que excitava Catarina a esmurrar as paredes até que todos os ossos das mãos estivessem completamente estilhaçados. (Se conteve, pois o instinto de preservação implorou por clemência.)


Catarina acovardava-se. Reservava o direito de externar o ódio a apenas aos de bravura. Aos de coragem para revidar. Mas Catarina era covarde. Cerrava os olhos enquanto segurava a respiração.

Asfixia. Força. Arrisca tudo para engolir o gênio da fúria.

E esse monstro cresce dentro de Catarina a cada mordida.



Perverte.

Corrompe.

Apodrece.



E se alimenta dos vermes que cultuam

o esterco sanguíneo que pulsa irrequieto

por entre os vasos rasos do rosto de Catarina.








3 comentários:

naosoualuno.blogspot.com disse...

Olá!! Repassando uma coisinha para você! O Selo de "Beautiful Blogger", é uma propagandinha a mais... vê lá no meu blog do que se trata!
Bjoo!! Sucesso!!

http://naosoualuno.blogspot.com/

... disse...

Olá. Adorei o blog! Estou te seguindo. Beijos, bom fim de semana.

Pietro Morais disse...

Texto pesado, lembra os textos que voce fazia a muitos anos atras;