sexta-feira, 3 de setembro de 2010

No Céu com diamantes.



Catarina, a única dos cinco irmãos que não conheceu sua mãe, foi marcada. Seu pai tentava, mas não conseguia esconder sentir Catarina como a culpada pela sua perda. Mas ela se importava com nada. Catarina só queria a luz.

Talvez um erro da natureza tenha sido o culpado por não permitir que Catarina ocupasse seu papel de filha. Aos 15 anos cortou os cabelos nunca antes cortados – os deixado acima dos ombros –, vestiu uma calça de um de seus irmãos, calçou um par de botinas e foi.

De domingo a domingo - ou seria segunda a segunda? - todo dia era ontem. Todo ontem, amanhã. Ela andava por calçadas, circulava por praças, cruzava esquinas.

Foi acolhida por Madamme Sindy em um prostíbulo conhecido por Céu de alguma cidade pequena que nunca fez questão de descobrir onde ficava. Catarina, que nunca quis mudar de nome, continuou a se chamar Catarina. Todas as noites eram Noite. Vestia o que mandavam e ás vezes mandavam nada vestir, apenas usar alguns colares que diziam ser de diamantes. Passava noite após noite entre o palco, um queijo, um colo. Ela se importava com mais nada.

Os dias corriam e Catarina continuava a ser Catarina. Madamme Sindy gritava:

- Menina! Pra onde pensa que vai com esse par de botas? Puta de Sindy só anda no salto 15!

Mas Catarina era Catarina. Ela andava por calçadas, circulava por praças, cruzava esquinas. Ela só queria a luz.

Conheceu Portuga, um frequentador, em uma dessas noites. Ele a apresentou à Maria Joana, sua primeira, mas que não foi suficiente para realizar seus desejos. Catarina queria a luz! Conheceu outras, se divertiu com outras, foi feliz com outras e triste também. Foi quando conheceu a Lucy, no Céu, com seus diamantes. Seu cheiro de canela que podia ser ouvido a milhares de km de distância. Suas curvas perigosas, geométricas. Suas formas irregulares que se misturavam com as piramidais, octaédricas, dodecaédricas. Arrepiava com seu toque. Delirava com seus sons, deslumbrava-se só de sentir a Lucy encostando-se a sua língua.

Catarina nunca tinha tido na sua vida tantas cores, tanto brilho. Ela era tão linda que não deixava Catarina distinguir o certo do errado, não a deixava decidir. Ela era o sol refletido nos olhos de Catarina. Ela era sua. Até quando passava dias, semanas sem senti-la, a sensação de tê-la correndo por sua língua voltava quando menos se esperava.

Catarina passou a encontrar Lucy no Céu com seus diamantes todas as noites, por meses, anos. E todos os dias andava pelas ruas a espera desse encontro. Ela andava por calçadas, circulava por praças, cruzava esquinas. E Madamme Sindy não cansava de adverti-la:

- Menina! Já disse que não ligo pro teu lance com a Lucy! Mas onde pensa que vai com esse par de botas velhas? Puta de Sindy só anda no salto 15!

Mas ela se importava com nada. Catarina só queria a luz, só queria a Lucy.

E foi numa dessas noites alucynadas que Catarina, defendendo a Lucy de Portuga, que ameaçava tira-la se não pagasse por ela, que Catarina encontrou o que tanto procurou.

- Lucy é minha! Venha Lucy, vamos ao Céu com diamantes.

Talvez sem perceber ao certo, tomou a Lucy pelas mãos, pernas, língua e correu. Correu por calçadas, circulou praças, cruzou esquinas. E foi em uma de tantas cruzadas que cruzou com a luz. E ela veio com tanta velocidade, com tanta força. Talvez por ciúme, a Lucy não deixou que Catarina a sentisse. Ela ficou lá. Jogada no chão. Imóvel. Perdida. A última coisa que ouviu foi o lamurio de Madamme Sindy que anunciava a desgraça:

- Caralho! Perdi uma bela puta, mas também, pra onde ela pensava que iria com esse par de botas velhas?

4 comentários:

José Jaime Junior disse...

Muito bom, um dos melhores da sala.

Flor de Cerejeira disse...

Muito bom, um dos melhores da sala.[2]

Kéu disse...

Ficou mara Dany *-*

Anônimo disse...

Dorei!

Lê plis ?

http://nabaladadocachorrolouco2.blogspot.com/2008/08/ela.html