quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Do início da obsessão.

Masmorra.



Viviam a espalhar que Catarina não tinha ambições. Eu, francamente, não entendo o motivo que fez essa gente pensar assim, já que – para mim – Catarina sempre teve o Querer correndo dentro de si. Caro leitor, eu sei que se visse Catarina se apaixonaria por ela da mesma forma que esse que vos escreve se apaixonou. Me visto dessa identidade masculina, pois se meu lado feminino conduzisse esse pequeno relato (espero que seja pequeno, e será se a mulher em mim se manter afastada) ele se resumiria a uma tragada de metáforas e alguns pingos sortidos especialmente escolhidos para borrar essas páginas.

Catarina era, simplesmente era. E me olhava, ela sempre me olhou e apenas isso. Mas ora! Como apenas? Bastava Catarina me olhar para que o calafrio na espinha me tomasse e numa fração de segundos descesse minhas pernas, envolvesse meu pescoço, arrepiasse meus pelos. Era um duelo. Uma disputa do que queria e do que tinha. Um duelo imaginário, onde imaginava que o arrepio que me tomava eram os braços finos de Catarina.

(Quero me desculpar se cansas de ler “Catarina”. Mas o fato é que não consigo chamá-la de outra forma. Me esforço e sofro internas represálias ao falar “ela” e não encontro adjetivos nem substantivos para substituí-la por completo. Me esforçarei, mas peço paciência, apenas paciência, e caso não a tenha em demasia eu não só entendo como perdôo.)

Toda minha história com Catarina pode ser facilmente resumida num instante. O instante de um afogamento. Os eternos segundos de quando se está embaixo d’água. O mundo corre e você sente o amorfinado gosto de vida sufocada. Catarina chegou. Olhei. Suspirei e na distração perdi o ar. Na minha incapacidade Catarina chegou. Me olhou. Olhei. Fechei os olhos. Senti o primeiro dos calafrios. Mesmo estando do lado contrário da calçada, a senti em mim. E me senti grávida de Catarina.

Eu a vi virar a esquina sem se despedir, apressada. Talvez tenha me visto louco. Ou me vestido assim. Bom, não sei como ela me afeta tanto, só sei que não se afetar é uma tarefa difícil e não invejo os capazes.

Sozinho, eu deitei. Sem perceber levei minhas mãos ao vente que não tinha. Mexeu. Tudo mexia, tudo vibrava. Catarina crescia, me tomava. Meu corpo deformava. Novamente fechei os olhos, mas ardiam. Contraí. Catarina nasceu. E a odiei por ter se plantando em mim.

(Amigo leitor, não se espante. Odiei – é verdade – mas é insignificante seu limite até amá-la. Eu fui usado e depois descartado, o que não impede de que, nesse meio tempo, tenha sido amado por Catarina.)

Agora tudo repele. O anseio vertiginoso por sentimentos mascarados, outrora outorgados, queima. Tudo repele. Por vezes mata, por vezes cura. Sentir é matar a sede de quem se afoga. O Encanto é um filete sem cheiro, embora dourado. O Amor, nem isso, nem menos.

Catarina me deu respostas quando o que eu mais queria era errar. Ela se deixou comigo para me inspirar, e na verdade eu apenas queria seguir meus impulsos.

O que aprendi? Amigo leitor, aprender é ter consciência do que se sabe, e eu nem sei nem tenho consciência. Brinquei de esconde-esconde com Catarina. Mais fácil seria me encontrar Deus, e muita gente ainda tenta… Então mantenho minhas esperanças de reencontrar Catarina. Esperanças são o café amargo e o pão sem manteiga que mata a fome. E sustenta. No fim? No fim acaba.



Viva, mas morra.



meados de 2008








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