terça-feira, 28 de setembro de 2010
Lembranças.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
No Céu com diamantes.
Catarina, a única dos cinco irmãos que não conheceu sua mãe, foi marcada. Seu pai tentava, mas não conseguia esconder sentir Catarina como a culpada pela sua perda. Mas ela se importava com nada. Catarina só queria a luz.
Talvez um erro da natureza tenha sido o culpado por não permitir que Catarina ocupasse seu papel de filha. Aos 15 anos cortou os cabelos nunca antes cortados – os deixado acima dos ombros –, vestiu uma calça de um de seus irmãos, calçou um par de botinas e foi.
De domingo a domingo - ou seria segunda a segunda? - todo dia era ontem. Todo ontem, amanhã. Ela andava por calçadas, circulava por praças, cruzava esquinas.
Foi acolhida por Madamme Sindy em um prostíbulo conhecido por Céu de alguma cidade pequena que nunca fez questão de descobrir onde ficava. Catarina, que nunca quis mudar de nome, continuou a se chamar Catarina. Todas as noites eram Noite. Vestia o que mandavam e ás vezes mandavam nada vestir, apenas usar alguns colares que diziam ser de diamantes. Passava noite após noite entre o palco, um queijo, um colo. Ela se importava com mais nada.
Os dias corriam e Catarina continuava a ser Catarina. Madamme Sindy gritava:
- Menina! Pra onde pensa que vai com esse par de botas? Puta de Sindy só anda no salto 15!
Mas Catarina era Catarina. Ela andava por calçadas, circulava por praças, cruzava esquinas. Ela só queria a luz.
Conheceu Portuga, um frequentador, em uma dessas noites. Ele a apresentou à Maria Joana, sua primeira, mas que não foi suficiente para realizar seus desejos. Catarina queria a luz! Conheceu outras, se divertiu com outras, foi feliz com outras e triste também. Foi quando conheceu a Lucy, no Céu, com seus diamantes. Seu cheiro de canela que podia ser ouvido a milhares de km de distância. Suas curvas perigosas, geométricas. Suas formas irregulares que se misturavam com as piramidais, octaédricas, dodecaédricas. Arrepiava com seu toque. Delirava com seus sons, deslumbrava-se só de sentir a Lucy encostando-se a sua língua.
Catarina nunca tinha tido na sua vida tantas cores, tanto brilho. Ela era tão linda que não deixava Catarina distinguir o certo do errado, não a deixava decidir. Ela era o sol refletido nos olhos de Catarina. Ela era sua. Até quando passava dias, semanas sem senti-la, a sensação de tê-la correndo por sua língua voltava quando menos se esperava.
Catarina passou a encontrar Lucy no Céu com seus diamantes todas as noites, por meses, anos. E todos os dias andava pelas ruas a espera desse encontro. Ela andava por calçadas, circulava por praças, cruzava esquinas. E Madamme Sindy não cansava de adverti-la:
- Menina! Já disse que não ligo pro teu lance com a Lucy! Mas onde pensa que vai com esse par de botas velhas? Puta de Sindy só anda no salto 15!
Mas ela se importava com nada. Catarina só queria a luz, só queria a Lucy.
E foi numa dessas noites alucynadas que Catarina, defendendo a Lucy de Portuga, que ameaçava tira-la se não pagasse por ela, que Catarina encontrou o que tanto procurou.
- Lucy é minha! Venha Lucy, vamos ao Céu com diamantes.
Talvez sem perceber ao certo, tomou a Lucy pelas mãos, pernas, língua e correu. Correu por calçadas, circulou praças, cruzou esquinas. E foi em uma de tantas cruzadas que cruzou com a luz. E ela veio com tanta velocidade, com tanta força. Talvez por ciúme, a Lucy não deixou que Catarina a sentisse. Ela ficou lá. Jogada no chão. Imóvel. Perdida. A última coisa que ouviu foi o lamurio de Madamme Sindy que anunciava a desgraça:
- Caralho! Perdi uma bela puta, mas também, pra onde ela pensava que iria com esse par de botas velhas?
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Foi paixão.
É paixão, Catarina, essa lava
Que chega, que fica, que arde.
É uma erupção de fim de tarde
Dos prazeres que se sente, mas não se fala.
Fica quieta, Catarina, não faz alarde!
Fica, fecha-te os olhos e te cala.
Descansa que hoje, nessa madrugada,
Serás mulher, e eu o homem que te parte.
Não chore, Catarina, meu amor.
Sei que sou bruto causando-te dor
Mas é para que te acostume a outros covardes
Agora vai, Catarina, vai, mas não te farte
Dos amores que em fila estão no aguarde
Para usar a tua alma, corpo, calor.
sábado, 17 de julho de 2010
Ela não podia.
Não queiram me dizer o motivo de eu estar aqui, sozinha. Vocês não sabe quem sou, nem o que aconteceu.
Mas Catarina é minha pseudo-liberdade, meu porto. Só que estou aqui, embriagada de ternuras recordadas. Sofrendo com essa ressaca na minha almoceanica não pacífica. Meu coração desritmado, enfurecido e danificado queima. Eu sei que Catarina não é justa ao me penetrar com seus olhos. Catarina não é justa ao me penetrar com seus olhos.
Não é.
Ela não podia.
sábado, 5 de junho de 2010
sábado, 22 de maio de 2010
Vou confessar:
Apesar dos Outros que insistem no que está certo ou errado, eu não conseguiria viver sempre de dia, separando as noites pra dormir. Não poderia viver nesse mundo cego surdo-mudo perturbado, no qual o calor do asfalto é o mais quente que conseguem sentir. Sou feliz assim: sonhando acordada e dançando e brindando à noite, até a sola do sapato cair!
domingo, 25 de abril de 2010
Just happy.
Recife, 25 de março de 2010.
Querido,
Peguei minhas sapatilhas de primeira comunhão e pintei de rosa. O resto da tinta joguei pela janela, calçada a fora. A tinta escorreu, pintou as ruas; e foram minhas mãos sujas que pintaram as tuas. Tirei de mim o marasmo e a apatia, deixei pra ti só meu bem e poesia. Com a tinta ainda fresca, as sapatilhas eu calcei e o vestido que vestia, tirei. Andei, sem medo, pelas ruas que, agora cor de rosa, refletiam seus tons em mim. Eu, branca nua, enrubesci, mas não por vergonha ou embaraço. Ruborizei com o sangue que pulsava com teu pulsar naquele beijo que te dei.
Com amor,
sábado, 3 de abril de 2010
Eyes
Essa Indiferença sempre aterrorizou Catarinamais que o desprezo, mais que a repulsa.
A Indiferença é uma pedra que, embora pedra, pulsa e vibra.
É a alma em estado vegetativo, na margem do ser, pronta para a queda.
É a faca apática, fina e oportuna, que pressiona até romper. Rompe e deixa brotar o córrego que se esvai até o fim.
Cansada, Catarina se vê afrontada,quase sem forças, nessa batalha sem futuropelos olhos dele nos dela.
sábado, 27 de março de 2010
Run
terça-feira, 16 de março de 2010
Não darei um título
Lá ou aqui
Nenhum nome é absoluto, nenhuma idéia é pedra.
Os carros passam e levam os ponteiros, o semáforo ritmado não pertence ao nosso mundo. Os ponteiros também não.
A noite não nega o dia (E nem ao contrário).
O que nasceu primeiro? A dúvida é enviada sem destinatário.
Nada é.
Estou.
E a caixa de correio não tem correspondência.
16 DE MAIO DE 2008
terça-feira, 2 de março de 2010
Anger
Quem fitasse os olhos de Catarina naquele momento único, teria a sensação de estar contemplando a rosácea da capela de Sainte-Chapelle em uma tarde de garoa.
Gota após gota molhava os vitrais. A primeira, mais pesada e orvalhada, transbordou e mais que depressa foi arrancada com um gesto ríspido e intolerante.
O dilúvio chegara. A tarde se fez noite e o sol não mais cruzava os vidros.
Era a fraqueza que escorria pelo rosto de Catarina, era a desonra destacada em meio ao ódio. Era o olhar que, mesmo cego pela escuridão, forçava um pequeno feixe de humanidade.
O Ciclone da Cólera. O mais poderoso e devastador e ditatorial dos demônios. Era a raiva animalesca que excitava Catarina a esmurrar as paredes até que todos os ossos das mãos estivessem completamente estilhaçados. (Se conteve, pois o instinto de preservação implorou por clemência.)
Catarina acovardava-se. Reservava o direito de externar o ódio a apenas aos de bravura. Aos de coragem para revidar. Mas Catarina era covarde. Cerrava os olhos enquanto segurava a respiração.
Asfixia. Força. Arrisca tudo para engolir o gênio da fúria.
E esse monstro cresce dentro de Catarina a cada mordida.
Perverte.
Corrompe.
Apodrece.
E se alimenta dos vermes que cultuam
o esterco sanguíneo que pulsa irrequieto
por entre os vasos rasos do rosto de Catarina.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Flow
O espelho não deixava margem para mentiras.Catarina estava deslumbrante.
Acordou naquele dia com uma sensação inexplicável de serenidade.
Acordara há pouco e já estava de saída. Eu tinha essa certeza, era seu costume acordar às 07h20min, todos os dias, religiosamente. Não eram 08h quando, da minha janela, observei Catarina se distanciando. Estava encantadora. Usava um vestido de verão com um charmoso chapéu. Provavelmente seria para se proteger do sol, entretanto, em Catarina, se transformava em uma arma.
Sem perceber, Catarina atira contra mim a cada passo firme dado. Lança projéteis revestidos de dourado em minha direção. Estraçalha meus braços, pernas, tórax, rosto. Minha carne, rente aos ossos, não suporta mais os bombardeios.
"Absorve um oceano de pedras, mas não deixa naufragar a célula que te deu origem."
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Do início da obsessão.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Satisfaction
Catarina decidiu que se permitiria viver.
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Sapless
Inquietude,
Transtorno,
Fracasso.